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Distúrbios do sono são agravados com a pandemia


Como o medo, mudanças de rotina e estresse podem acarretar em problemas no sono e na saúde


Por Juliana Meneses




Segundo o estudo realizado pelo Ministério da Saúde, a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, com cerca de dois mil entrevistados, 41,7% vem apresentando problemas no sono desde o início da pandemia. De acordo com a ciência, os distúrbios do sono podem ser causados por diversos fatores, estando o estresse entre a maior fonte deste problema.


Os distúrbios do sono podem ocorrer em qualquer uma das quatro fases de sono diferentes. A fase 1, representa 10% da noite sendo a de transição entre a vigília e o sono. Fase 2, representa 45% da noite, quando o ritmo dos batimentos cardíacos e respiratórios diminuem, é conhecida como fase do sono leve. A fase 3 representa 25% da noite, onde o corpo funciona mais lentamente e o metabolismo cai, a respiração também fica mais lenta. E a fase 4 representa 20% da noite, chamada de sono profundo ou sono REM, onde ocorrem os sonhos.


Com o início da pandemia da Covid-19 a sensação de medo, insegurança e ansiedade somam aos fatores que dificultam em ter um sono de qualidade. A mudança repentina na rotina, como por exemplo os horários definidos para trabalhar, a falta de contato com outras pessoas, alimentação desregulada também prejudicam diretamente em coo será o sono ao final do dia.


A médica do sono, otorrinolaringologista e professora universitária, Carolina de Paula Soares, explica que a insônia, apneia obstrutiva estão entre os distúrbios do sono mais comuns, sendo cerca de 60% dos adultos são acometidos de insônia.




“Os distúrbios do sono mais prevalentes na população adulta são a insônia (que é a incapacidade de iniciar, manter ou despertar precoce do sono associado ao cansaço e prejuízo funcional do dia seguinte, acomete até 60% das pessoas em alguma fase da vida), a apneia obstrutiva do sono (que são pausas do fluxo respiratório enquanto dormimos, em 90% dos casos marca pelo ronco, acomete quase 35% da população segundo estudo realizado na cidade de São Paulo), a restrição do sono (que é dormir menos de 6 horas a cada 24 horas), os transtornos do movimentos (conjunto de doenças como a síndrome de pernas inquietas, bruxismo entre outros) e as parassomias (sonambulismo e falar dormindo)”.

A médica afirma que com a pandemia, e o aumento dos quadros de ansiedade e estresse, houve um grande aumento nos problemas relacionados ao sono. A falta de horários determinados para as atividades também influenciam diretamente neste quadro.


“Pensando em tempos de pandemia fica fácil apontar a ansiedade, falta de uma rotina saudável (horários para comer, dormir e se exercitar), manejo do estresse e a obesidade. Mas os distúrbios de sono sua multifatoriais, havendo influencia genética, hábitos, doenças associadas e períodos da vida”.

A médica afirma que estudos recentes mostraram que os quadros de insônia e sono desregulado foram agravados desde o início da pandemia, todo o cenário de medo e incertezas tornam os problemas do sono mais recorrentes, inclusive nas crianças, além da falta dos marcadores da rotina que auxiliam em lidar com o tempo.


“Inclusive estudos em todo o mundo e no Brasil evidenciaram isso. A Associação Brasileira do Sono publicou esse mês um estudo com mais de 4000 profissionais de saúde durante a pandemia, e observou que 33% dos entrevistados iniciaram medicação para tratar insônia. Vimos e estamos vendo toda ansiedade, medo e até a dor das perdas refletindo no sono. Além da insônia distúrbios de movimentos, os pesadelos, sonambulismos aumentaram tanto em adultos quanto crianças. O sono é uma janela do inconsciente não tem como não ter sido afetado pelo flagelo do século. Além dos aspectos psicológicos os períodos de isolamento social tiraram marcadores de sociais, como escolas, horário de entrar no trabalho e exposição ao sol. E para completar a próprias COVID causa alterações no sono, tanto por poder atingir níveis de oximetria mas até mesmo por alterações neurológicas associadas a infecção”.

Detectar o problema e investir em tratamento


Após perceber que a qualidade do sono não está correta, dificuldade de dormir, sono leve, onde se acorda diversas vezes a noite, apneia ou sonambulismo, por exemplo são motivos para procurar um especialista para tentar entender o que pode estar acontecendo de errado com o corpo e causando estes distúrbios.


Para doutora Carolina é importante que o paciente esteja atento aos sintomas destes problemas, e que possa ser feito um acompanhamento adequado com um médico especializado que investigará as causas deste problema e instruirá qual o tratamento correto, e assim possa haver uma melhora na qualidade de sono.


“Eu diria que o primeiro passo é observar se estamos dando tempo para o sono acontecer e observar o que acontece durante a noite e como nos sentimos no dia seguinte. Muita gente ronca, acorda cansado mesmo depois de ficar mais de 7 horas na cama e acha que está tudo normal…mas não está! Então se tem algo que você ou quem dorme junto percebe de anormal e isso interfere no seu dia seguinte é hora de procurar um especialista. Infelizmente há pouquíssimos médicos do sono habilitados no Brasil (menos de 1000) então algumas outras especialidades como a neurologia, psiquiatria, otorrinolaringologia e pneumologia podem estar fazendo uma avaliação inicial e ver se há necessidade de exames complementares. E conforme os resultados o médico pode iniciar o tratamento junto ou não a uma equipe multidisciplinar”.

A médica explica que os distúrbios do sono podem acarretar em diversos problemas de saúde, e que um sono de qualidade auxilia a ter uma vida mais saudável.


“As pesquisas nos últimos 30 anos tem mostrado que o sono é um processo regulatório fundamental a biologia celular, nossos cromossomos são alterados conforme temos distúrbios do sono. Então podemos dizer que muitos problemas de saúde podem ser causados por noites mal dormidas. Nosso corpo envelhece e sofre mais danos por radicais livres se não permitimos que ocorra uma adequada ‘faxina’ enquanto dormimos. Independente de qualquer outro distúrbio do sono sabemos que dormir menos de 6 horas ou mais de 9 horas está associado a mais doenças cardiovasculares. A apneia obstrutiva do sono além de também elevar o risco cardiovascular, pode causar diabetes, estar associada impotência e doenças como Alzheimer”.

Estilo de vida saudável ajuda e muito


Levar um estilo de vida mais equilibrado é sempre o ideal para prevenir a maioria dos problemas de saúde. Ter uma alimentação saudável, ingerir menos alimentos ultraprocessados e industrializados, fazer atividades físicas, evitar o estresse, são alguns dos fatores que podem contribuir muito para uma boa qualidade do sono.


Doutora Carolina diz que não existe uma fórmula mágica, mas o tipo de vida que se leva influência no modo que o sono acontece.


“Não há fórmula mágica que sirva a todos, mas desde a Grécia antiga Aristóteles já prescrevia: boa alimentação, exercícios e bom sono; essa é a tríade da saúde. Acredito que rotinas que incluam esses pilares, evitar hábitos que nos excitam como ficar com celular na mão 1 hora antes de dormir, ou alimentos e bebidas que nos acelerem já ajuda. Se expor ao sol alguns minutinhos todos os dias pode ajudar a marcar o ritmo circadiano. Manejar o estresse e se proteger tomando vacina, com certeza fazem nosso cérebro relaxar e deixar o sono acontecer”.

A especialista afirma que ter um bom sono é fundamental para ter uma vida equilibrada, mais clareza mental durante o dia e mais saúde, sendo muito importante para o bem-estar.


“Sempre importante lembrar que passamos 1/3 das nossas vidas dormindo. O sono não é um liga-desliga, dormir é um processo com fases e ciclos os quais se repetem durante a noite, com funções importantíssimas ao nosso organismo. Além de todas doenças que podem ser causadas por distúrbios do sono, o sono insuficiente ou de má qualidade pode reduzir nosso humor, nosso vigor, reduz nosso tempo para tomada de decisões, impacto negativamente no julgamento, reduz nossa concentração e memória. Dormir bem sem dúvida alguma é um excelente investimento no futuro”.

Tente dormir melhor


Estabelecer uma rotina para tentar ter um sono de qualidade pode auxiliar nos distúrbios do sono. Um mesmo horário definido para dormir, por exemplo ajuda o corpo a compreender que aquele momento será destinado ao descanso. Evitar aparelhos eletrônicos antes de dormir também pode ser benéfico para a qualidade do sono. Durante o dia, práticas como o yoga e a meditação auxiliam a manter a saúde mental e o equilíbrio, o que consequentemente ajudarão com o sono.


@medicadosono


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